Fio por fio, ponto por ponto

A Editora Evoluir Cultural queria um livro de 40 páginas, baseado nas fotografias, que abordasse uma série de temas (como brinquedos e brincadeiras, cotidiano, comidas, relações de gênero etc.), e que retratasse aspectos das africanidades. Bel e Vy queriam um livro que fugisse ao didatismo, desconstruísse estereótipos, que se baseasse em positividades, sem romantismo; que explorasse diferenças e aproximações, respeitando a criança como sujeito de potência, criativo e produtor de cultura; e que não usasse linguagem “ta-ti-bi-ta-ti”, tampouco uma estética com base em “infantilismos”.   

A empreitada começa pela escolha do país, já que Virgínia havia morado em 6 do continente africano. A Guiné-Bissau foi eleita pela variedade maior de enfoques nas fotografias e também porque Vy tinha um “caderno de campo” com várias anotações sobre as formas de vida local.

O segundo passo foi mergulhar nas imagens a partir dos temas sugeridos pela editora, levando em conta critérios de qualidade, mas também que não explorassem privilegiadamente a pobreza, a doença, a falta... mas a riqueza cultural, a pluralidade, a diversidade.

A partir da primeira seleção conjunta, Bel dedica-se a selecionar, no “caderno de campo”, aspectos interessantes que pudessem dialogar com as imagens – e foi aí que surgiu a ideia das cartas. Como as duas autoras são Marias – Maria Isabel e Virgínia Maria – batizaram o livro de “Cartas entre Marias”. A construção das personagens foi pensada, inicialmente, de forma autobiográfica, mas a fim de melhor acolher diferentes estruturas familiares, foi posteriormente alterada.

A primeira versão ficou pronta, mas como pesquisadora, Bel queria que o texto do livro passasse por seu maior crivo: as crianças. Assim, fizeram contação de história e enviaram um PowerPoint para algumas crianças de sua relação direta, pedindo que opinassem.


(O USO DO TURBANTE FOI O MAIOR SUCESSO NESSE GRUPO!)


 


Paralelamente, enviaram o material para colegas da área de Letras/Literatura e para amigos que atuavam com crianças, pedindo-lhes uma leitura crítica. Uma dessas pessoas, Rosilene de Fátima Koscianski da Silveira, fez um laboratório precioso: projetou o livro para sua turma na Escola de Educação Básica Irmã Edviges, uma instituição da Rede Pública Estadual, em Criciúma, ao sul de SC, e anotou todos os comentários. O material também foi apresentado a um grupo de pessoas da Guiné-Bissau para avaliação.

Esse rico material avaliativo foi usado para mudar o livro: partes foram subtraídas; outras acrescidas; fotos substituídas. Pronto! O livro surgia com seu título completo: “Cartas entre Marias: uma viagem à Guiné-Bissau”. Aproveite-o!